sexta-feira, 6 de maio de 2011

O maior dos santistas



A decisão do Campeonato Paulista entre Corinthians x Santos não me trazem só expectativas em torno da rivalidade pela decisão de mais um título entre os dois rivais. Para sempre, este confronto alvinegro me trará lembranças especiais, não só por histórias dentro de campo: é impossível não olha para este jogo sem me recordo do meu Vô Zé!

Nunca ouvi o Seu Zé Gomes contar, como também nunca perguntei, desde quando ele era santista. Creio que, como a imensa maioria dos torcedores do Peixe, sua simpatia tenha começado entre as décadas de 1950 e 1960, graças ao esquadrão de Pelé & Cia., que encantou ao mundo e é tão lembrado até hoje.

Apaixonado por esportes, meu avô assistia a qualquer modalidade que passasse na TV – mas acompanhava a disputa com propriedade, pois gostava de sentir informado e aprender sobre o que estava se passando. Claro, o futebol ocupava um lugar especial de sua atenção, fosse a Copa do Mundo ou os campeonatos paulistas da Série A-3, Dente-de-Leite ou de Aspirantes (este último nem existe mais...).

Mas tão grande quanto seu amor pelo Santos, só mesmo a sua antipatia pelo Corinthians! E eu que o diga, com este intenso corintianismo herdado diretamente do meu pai – assim como 90% da família dele. E, diga-se de passagem, rivalidade sempre pelo lado da brincadeira, mesmo porque, meu avô era extremamente sensato e realmente sabia reconhecer méritos em vitórias e falhas em derrotas, sem culpar fatores externos.



Entretanto, a paixão do meu avô e o momento vivido pelo clube da Vila Belmiro fizeram com que a rivalidade em mim, naquela época, não fosse tão inflamável como são as contra São Paulo e Palmeiras – óbvio, só não gosto de perder para o Santos, principalmente decisões de títulos. Mas na década de 1990, a situação do Alvinegro Praiano era muito diferente da atual: o clube vinha de uma longa fila sem títulos e, geralmente, contava com elencos tecnicamente limitados.

Em resumo, seu papel era semelhante ao exercido por clubes como Portuguesa, São Caetano e Ponte Preta, por exemplo: aquele clube que você tem simpatia e até torce quando o seu time de coração é eliminado, mesmo sabendo das remotas chances de título. E o ápice desta situação se deu em 1995, quando após a desclassificação do Corinthians, torci pelo Santos comandado por Giovanni no injusto Vice-Campeonato Brasileiro (assistimos juntos a vários jogos desta campanha histórica).

E justamente um dos Corinthians x Santos mais inesquecíveis para mim, estávamos assistindo juntos, nas Semi-finais do Campeonato Paulista 2001. O jogo estava nos acréscimos e o placar de 1x1 classificava o Peixe, o que me fez ouvir piadinhas desde metade do 2º tempo...

Daí, um gol salvador de Ricardinho mudou completamente o quadro aos 48 minutos do 2º tempo! Comemorei alucinadamente o gol da sofrida classificação, porém, rapidamente me senti coibido em externar minha alegria assim que olhei para meu avô: sua expressão decepcionada, mesmo sem dizer uma única palavra, me inibiu completamente.


Mas em dezembro de 2002, foi a vez de ele descontar, em que o Santos conquistou o inédito Campeonato Brasileiro em cima do Timão, com aquele timaço formado por Robinho, Diego, Elano, entre outros. Ainda bem que não assistimos juntos àquelas finais, pois ficou empolgadíssimo ao ver o time campeão novamente, apresentando um empolgante futebol-arte.

Alguns dias depois, em 27 de dezembro de 2002, comemoramos os 85 anos do Vô Zé. Como a família da minha mãe costuma se reunir para passar o Natal, ficávamos mais dois dias juntos para esperar o aniversário dele, que é no mesmo dia do meu tio Jairo. Com exceção da mega-festa dos seus 80 anos, os aniversários dele tinham apenas um bolo. Mas naquele 2002, o título incentivou que o tradicional bolinho fosse incrementado por decoração e assessórios do Santos. Imaginem só, ele que já era emotivo por natureza, como se sentiu naquela ocasião

Mal podíamos ter certeza, mas aqueles foram os últimos Natal e aniversário que passamos juntos. Sua saúde, que já estava fragilizada, não resistiu por mais um ano, fazendo com que ele nos deixasse em novembro de 2003.

Hoje em dia, apesar de ser uma das derrotas corintianas mais lembradas até hoje por torcedores santistas e pela imprensa, não mantenho mais qualquer sentimento ruim por este Brasileiro 2002. Afinal, graças a ele me recordarei eternamente de um dos últimos bons momentos que passei ao lado do Seu Zé Gomes!

Aniversário de 80 anos do Vô Zé, com a Natália e a Vó Francisca (1997)

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