terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Reconhecer erros

Foto: Djalma Vassão / Gazeta Esportiva


Mais do que minha torcida, a vitória do Corinthians por 2x0 sobre o Palmeiras e a derrota do São Bento para o São Caetano por 1x0 me chamaram atenção para mais aspectos em comum: a importância de perceber os próprios erros e agir para corrigir rumos.

Entretanto, infelizmente, os dois times seguiram caminham opostos. Enquanto Fábio Carille sacou atletas que vinham mal e alterou a formação tática do Timão, Paulo Roberto Santos manteve o Bentão inalterado, resultando em mais pontos perdidos contra um adversário inferior tecnicamente (que atuou com 10 atletas em quase toda partida). 

O Corinthians surpreendeu a todos em 2017, quando superou as limitações do elenco e faturou os títulos Paulista e Brasileiro. Porém, em 2018, a equipe sentiu as saídas do lateral-esquerdo Guilherme Arana e do centroavante Jô.

As reposições com os limitados Juninho Capixaba e Júnior Dutra; a necessidade da maior escalação do carismático (e fraquíssimo tecnicamente) Kazim; a inexplicável inutilização de revelações da base (como Carlinhos e Pedrinho) e a contração de garotos da mesma idade de outros clubes (casos dos Matheus Vital e Mathias, que não estrearam ainda); a perda de bons reservas (por exemplo, Marciel, que sempre rendeu como volante e lateral-esquerdo); e o muito dinheiro investido no comum Henrique (quando Pedro Henrique e Léo Santos vinham dando conta da zaga) levaram a uma perda de rendimento do grupo como um todo.




Contra o Palmeiras, que conta com um investimento muito superior ao do Timão e que estava invicto até então (com o bom desempenho novamente inflado além do normal por torcedores e setores da imprensa), Carille teve a consciência de que era preciso modificar aquilo que não estava dando certo.
Trocou o 4-1-4-1, tradicionalmente usado desde 2015 (último ano da era Tite), por um 4-4-2 à moda antiga: Gabriel e Renê Jr. na cabeça de área; Rodriguinho e Jadson como meias convencionais; e os velozes Clayson e Romero no ataque, sem um camisa 9 raiz; além de deslocar o volante Maycon, muito competente pela lateral-esquerda.

O 2x0 no placar fez justiça à superioridade alvinegra, simbolizada pelo gol de Rodriguinho, resultante de uma troca de passes sem perder a posse de bola por 1’30”, com direito a dois adversários no chão.


Foto: Gazeta Esportiva / Arquivo

Já pelos lados alviceleste, a exemplo de Tite e Carille, Paulo Roberto Santos é um estudioso caxias do lado tático do futebol. Está no São Bento desde 2014, o que lhe conferiu o raro recorde do treinador a mais tempo a frente de uma equipe entre todas as participantes das séries A, B, C e D do Campeonato Brasileiro.

Assim, desde 2015, sabemos como o Bentão se porta em campo, num 4-2-3-1 forte na marcação e rápido na exploração de contra-ataques, com dois laterais fortes no apoio; um volante protegendo a zaga e outro com liberdade para atacar; um meia armador centralizado; dois meias ou atacantes rápidos pelos lados, que marcam e ajudam recompor a defesa; e um centroavante fazendo o papel de pivô. 

Sem dúvida, os resultados do clube falam por si. Mesmo em 2018, se o Paulistão terminasse hoje, estaríamos classificados para a próxima fase. No entanto, assusta a apatia do Bentão quando enfrenta adversários mais fracos e que encontram-se abaixo na classificação: contra Ponte Preta, Santo André, Linense e São Caetano, foram 2 pontos conquistados em 12 disputados (enquanto enfrentou os três primeiros jogos em Sorocaba, o último estava na zona de rebaixamento e atuou a maior parte com 10 jogadores), sempre tomando gols nos últimos minutos. 

Óbvio, reconheço as limitações orçamentárias e de folha de pagamento do Azulão, embora já tenhamos presenciado elencos mais modestos e combativos ao longo da história. Defendo estar mais do que na hora do treinador mexer na equipe, antes que a sombra do Novorizontino nos tome a vaga.

O Bentão 2018 continua forte na defesa, porém, perdeu a intensidade e a velocidade dos contra-ataques. A equipe sente muito ainda saída do volante Éder que, guardadas as devidas proporções, fazia o papel dado por Tite a Paulinho no Corinthians e na Seleção (marca como volante, cria como meia, apoia como ponta, compõe a defesa como lateral e finaliza como centroavante). 


Éder, volta, por favor! (Foto : Jesus Vicente / EC São Bento)


Sem o atual atleta do Red Bull, Maicon Souza passou a atuar mais recuado e caiu muito de produção, sem render no ataque ou na defesa e sobrecarregando o incansável Fábio Bahia na cabeça de área. Com isso, o meia Celsinho vem se destacando na função de maestro enquanto dura seu fôlego, que sempre termina antes dos 90 minutos, pois é obrigado a voltar buscar a bola devido essa falta de transição. Geralmente, é substituído por Cassinho, que pouco tem produzido.

Dos atacantes laterais, os novos Léo Itaperuna e Lucas Crispim são muito limitados; Marquinhos, quando teve oportunidade, também não correspondeu; e até mesmo Everaldo, um dos responsáveis por chegarmos à série B, está muito aquém do esperado. Pela lateral-direita, Régis tem sido o principal destaque, embora esteja levando vários sustos pelos lados da defesa, principalmente pela esquerda, com o capitão Marcelo Cordeiro. 
Como centroavante, Anderson Cavalo sempre se desdobra em campo com muita raça, até onde seus recursos técnicos permitem, pois os dois recém-contratados Elias e Lúcio Flávio mostraram-se muito abaixo das expectativas. 

A exemplo de Carille, Paulo Roberto precisa não só reconhecer os erros, mas corrigi-los. Aliás, não é necessário nem olhar para o Corinthians de 2018, mas só lembrar do que ele próprio fez 2014, quando nenhum dos centroavantes do Bentão agradavam, armou o time num 4-4-2 com dois atacantes de velocidade: conquistamos o acesso ao Paulista da A-1, onde permanecemos até hoje. 

Do que o São Bento apresentou até aqui em 2018, defendo uma formação com dois volantes, com Diego Felipe (ou Rodrigo Thielsen) auxiliando Fábio Bahia na marcação, com Celsinho e Diego Oliveira como armadores (aliás, Diego Oliveira foi bem quando entrou, mas, sem explicações, não foi mais escalado). Com isso, acredito em mais qualidade na transição para o ataque, que uniria a velocidade e a técnica de Everaldo com a força e a raça de Cavalo.

Enfim: ideias de um torcedor que assiste a tudo das cadeiras, sem ser especialista em tática ou estar presente no cotidiano do clube. Entretanto, exatamente por isso, me sinto no direito de cobrar: por saber que este elenco pode render mais. Afinal, somos nós torcedores quem sofreremos as consequências de uma decepção em campo


Corrigimos rumos em 2014: subimos! (Foto: globoesporte.com/tvtem)

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